Civilização Harappiana
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mapa onde se encontra a cidade de Harappa e o Rio Indo. |
Provavelmente num período aproximado de 3.000 a 2.000 anos a.C., floresceu no vale do Indus a civilização de mesmo nome. De 1921 a 1931, escavações arqueológicas realizadas por John Marshall, Mackay, Wheeler, Siddiqi, Dikshit, Vats e Hargreave desenterraram as ruínas das cidades de Mohenjodaro e Harappa. A civilização do Indus foi nitidamente urbana e um ápice de cultura no mundo da época. Mohenjodaro foi o que Ashfaque e Naqvi chamaram de "cidade moderna da antigüidade". Ela se dividia numa parte alta e outra baixa, suas construções eram de tijolos cozidos em forno e ela possuía um grande sistema de esgotos, o primeiro de que se tem notícia. Toda a cidade era dividida em bairros, cortados por ruas e ruelas formando quadras. As ruas eram largas e retas, com mais ou menos 10 metros de largura. As ruelas possuíam de um lado a outro de 2 a 4 metros e as casas tinham suas entradas voltadas para elas. Na cidade baixa as quadras eram geometricamente exatas. Este urbanismo "moderno"era completado por uma concepção funcional das moradias. As casas em geral eram simples, nada belas, mas bastante confortáveis, possuindo quase sempre: cisternas, banheiros, antecâmaras, escadas para andares superiores e pátio. Existem ruínas de alguns edifícios importantes como o dos Grandes Banhos, o Grande Celeiro e a Sala das Pilastras. Supõe-se pelo já encontrado que havia um sistema organizado de troca de gêneros e uma administração central, composta provavelmente por autoridades religiosas, já que a Sala das Pilastras deve ter sido um Colégio de Sacerdotes e a piscina dos grandes Banhos faz pensar em rituais religiosos ligados à água. A vedação da piscina, o reservatório com sistema de comportas, o fosso alimentado por canalizações subterrâneas, tudo evidencia o avanço técnico daquele povo e a importância que ele dava à higiene. Vemos nesta civilização pré-védica, anterior à invasão ária, obras importantes de arquitetura, arte que desaparecerá por séculos com a chegada dos arianos. Devido à fertilidade do vale, os homens de Mohenjodaro e Harappa devem ter vivido na abundância, trabalhando na agricultura usando a bacia do Indus como meio de transporte, negociando por terra e, segundo indícios, também por via marítima, com a Ásia Central, o sul da Índia, a Pérsia e o Afeganistão.
Existem muitas hipóteses acerca das causas do declínio e desaparecimento da civilização do Indus, como: enchentes, epidemias e secas. Mas a mais provável é a de que sucessivas incursões de arianos, vindos do noroeste, tenham aos poucos dizimado a população autóctone. A posição de certos esqueletos encontrados demonstra que os aborígenes foram várias vezes surpreendidos em suas tarefas cotidianas.
Vale do rio Indo |
Os arianos ou ários viviam provavelmente na Ásia Central, no planalto que hoje é o deserto de Gobi. Segundo vários achados de geologia e paleontologia (principalmente do sueco Sven Hedin) e segundo narrações históricas budistas, pensa-se que neste deserto havia um mar interior, e que numa ilha deste mar existia uma cidade. Era desta ilha que partiam os arianos, migrando em várias direções e subjugando outros povos. Eles foram empurrados provavelmente por cataclismos naturais, tornando-se assim invasores que impunham facilmente sua inteligência e força. Possuíam eles elevada estatura e pele clara, muitos incursionaram para o oeste, tornando-se antepassados dos gregos, celtas e latinos.
É nosso parecer que a civilização do Indus já estava em declínio quando a invasão ária, e as sucessivas incursões apenas aceleraram a derrocada. Os arianos ao entrarem na Índia encontraram culturas nativas descendentes de Harappa e Mohenjodaro, mas não as próprias. Isto talvez explique o porquê de os Vedas considerarem os aborígenes como bárbaros e primitivos. A civilização do Indus foi, já apontamos, altamente civilizada, desenvolveu um rico artesanato, uma escrita pictórica muito avançada e nos legou valiosas obras de arte. Sabemos, outrossim, que a língua dos drávidas do sul era falada antes da invasão, indicando a coexistência pré-ariana da escrita dravidiana e do Indus. Talvez com a invasão ária, muitos drávidas tenham migrado para o sul, explicando assim a presença de tal língua fora do vale do Indus. Hoje a língua dravidiana é falada no sul da Índia e no Beluquistão Central, e tem o brahmi como um de seus ramos.
A escrita do Indus é toda ela curta, presente em tabuinhas de bronze, sinetes e selos. Os pesquisadores levantaram várias hipóteses de tradução dos signos da escrita, porém ela ainda não foi decifrada; não se sabe tampouco ao certo, a que grupo lingüístico ela poderia estar vinculada. Nas tábuas quase sempre aparece uma figura central de forma animal - búfalo, elefante, tigre, rinoceronte, unicórnio, ou mesmo figuras humanas com chifres e rabo. Acima das figuras era colocada a escrita, composta em uma, duas ou três linhas.
Foram encontradas também inúmeras obras de arte, esculturas de terracota representando miniaturas de animais, homens e mulheres. As imagens de mulheres aparecem enfeitadas com colares e jóias de pedra, muitas estão enegrecidas de fumaça por terem servido talvez como incensário. Supõem-se que sejam a representação da Deusa-Mãe, culto comum na antigüidade oriental, que aparecerá no hinduísmo posterior, principalmente na devoção às esposas do deus Shiva: Kálí, Durga, Parvatí, Gaurí, Bhagavat e Manasa. Encontrou-se entre os bustos masculinos, em geral nus e barbados, a escultura de um homem vestido com um manto esvoaçante, e enfeitado com trevos em relevo, devido ao porte sereno e majestoso se lhe deu o nome de Rei-Sacerdote. Esta imagem faz crer que na Civilização dos Indus, além do culto à Divina-Mãe, havia já a figura do homem-deus, o santo, o protótipo do yôgi. Isto é reforçado pelo fato de se haver descoberto deuses em posturas de Yôga e um sinete de esteatita representando um homem sentado sobre um trono, cercado pelas figuras de quatro animais: um elefante, um rinoceronte, um tigre e um búfalo. Sob o trono há gravado o que se pensa ser antílopes, e o homem tem os olhos voltados para um ponto entre as sobrancelhas. Tal sinete lembra imediatamente o deus Shiva da Índia védica, chamado de "O Senhor das Feras" (Pashupati), pela sua postura corporal, pelos animais que o cercam e pelo olhar entre as sobrancelhas, que é uma prática de Yôga chamada êkagrata.
Os deuses ários são humanos, todavia devido à herança drávida, eles usam "veículos" (vahanas), aparecem montados nos mais variados animais: Brahma num cisne (Hamsa), Shiva num touro (Nandi), Vishnu, num falcão (Garuda) e na serpente do mundo (Ananta). Os drávidas legaram ao hinduismo, além das imagens animais, o respeito à natureza em geral, fauna e flora. Para os hinduístas existem árvores sagradas e a união com o Criador supõe comunhão com a natureza, o que, no período proto-histórico, já significava vida comunitária rural em torno de um Mestre espiritual, origem dos ashrams atuais.
O hinduísmo também herdou dos drávidas o culto ao aspecto feminino da divindade, assim como a sacralização da água e do sexo, influência essa presente nos ritos, nas imagens, nas idéias filosóficas e nas técnicas tântricas ascéticas. Pensamos por isto, que a origem pré-védica das técnicas de Yôga vincula o Yôga-védico a uma tradição shivaísta, e não vishnuísta, segundo alguns pretendem.
"Shiva, O Destruidor." |
25 de janeiro de 2020 às 21:52
parabéns pelo texto e pelo blog!!